“Tudo era tão perfeito, só podia dar em merda...”
Primeiro pensamento do dia, nada bom, enquanto fuma o primeiro de seus muitos cigarros, Clarisse, sentada no degrau, tem uns flash´s do seu passado, na verdade de uma única parte, somente a mais importante... Traga e lembra, lembra e traga, assim fica pelos próximos 10 minutos tragando e lembrando...
Bate a cinza no chão e lembra daquela vez que ele levou flores no seu serviço, ele trabalhava na zona leste, ela na sul, ônibus, metrô, rua, com um bouquet na mão, ele morrendo de vergonha, ela com um sorriso no rosto quando o viu, bons tempos aqueles, tudo era tão calmo... Mais um trago, um suspiro, os olhos ficam tristes quando pensamos naqueles que não temos mais...
Clarisse ainda sentada no degrau, lembra de quantas vezes ficou sentada na escada comendo besteira, rindo com ele do seu lado, acreditando que tudo era perfeito e nunca ia acabar. Pensa em todos os filmes que não viram juntos, em todas as músicas que escutou sozinha pensando nele, em todos que conheceu depois, mas que nenhum era ele, por isso está sozinha...
Levanta, apaga o cigarro, resolve sair, são 10:30, domingo de sol, crianças nas ruas, namorados nos parques, solitários nos bares, a vida é assim, acende mais um cigarro, caminha pela rua, escuta um pouco distante a buzina de um vendedor de algodão doce, caminha em sua direção, quanto mais perto, mais lembra, das inúmeras vezes que comeram algodão doce juntos...
_Quanto é?
_ 1 Real.
_ Quero o rosa com a mascara de macaco
_Aqui!
_Obrigado
Continua caminhando pela pracinha, a mesma pracinha onde se conheceram, onde viveram talvez os melhores anos de suas vidas, alí conheceram pessoas, alí beberam, fumaram, choraram, alí ele disse que a amava, alí ela o pediu em namoro, alí ganhou seu primeiro presente: um cd, alí teve a certeza que o amava. Resolve sentar no mesmo banco onde há anos eles começaram a namorar, come o algodão doce, dessa vez sozinha, termina o cigarro, e pensa em tudo o que viveu naquela praça. O tempo passa, as lembranças ficam...
O sol esquenta o corpo, mas não o coração, olha no relógio 12:10, Clarisse sente-se fria e triste seu coração gelado. Coração gelado, sorri lembrando das brincadeiras que faziam. Ainda sentada acende outro cigarro, traga com força, os olhos cheios de lágrimas, a dor que já acostumou a sentir toma conta de todos os espaços, Clarisse sabe que sente a falta dele, sabe onde ele está, ainda existem sentimentos, traga, bate a cinza, sorri meio sem motivo, meio triste, meio perdida.
Resolve ir embora, caminha de volta pela praça tentando deixar suas lembranças lá, quanto mais quer esquecer, mais lembra. Realmente tudo era tão perfeito que só podia dar em merda...