Tuesday, June 12, 2007

"Dia dos namorados, uma das semanas mais tristes do ano, principalmente para aqueles solteiros recentes, mas com o tempo eles vão criar uma espécie de capa protetora, no ano que vem muitos deles continuaram solteiros e com o passar dos anos a capa fica tão forte que já não importa mais, eles criam teorias de que essa data foi feita só pra vender mais, de que é melhor estar solteiro, alguns sentem culpa, outros saudades, mas em alguns casos eles viram o que ela costuma de chamar de mortos vivos, isso mesmo, como aqueles do cinema"

Fim de semana agitado, feriado prolongado, festa na paulista, muitas garrafas vazias e maços amassados, a segunda chega rápido, a sua vida volta ao normal, trabalho chato, Clarisse já pensa em mudar. _Nossa! Cinco anos trabalhando no mesmo lugar quase uma vida, as mesmas pessoas, as mesmas brincadeiras tudo igual a cinco longos anos. Momentos filosóficos em plena segunda feira.

Mas hoje a rotina muda, véspera do dia dos namorados, ela vai ter que agüentar as perguntas básicas. _O que comprou pra ele? O que vai dar pra ele? Ta namorando né? Sobrevive à parte da manhã, chega a hora do almoço a pior de todas as horas, todos na mesa contando o que vão dar e ganhar, sufocante...

_E você Clara o que pediu?

_Nada! Um nada seco ecoa pelo refeitório.

Silencio na mesa... O barulho dos garfos, facas e dentes, tomam conta do ambiente. Constrangimento coletivo, alguns ali acham que Clarisse gosta de mulher outros que vai ser uma solitária. Nem um nem outro o destino de Clarisse é maior que isso, ela sabe que vai “amar” muitas vezes e vai quebrar a cara em todas, então prefere não misturar as coisas. Amor somente um, paixões todas do mundo, sofrimento zero, ela sabe que hoje sua capa é tão forte que fazer ser amada é fácil, sabe onde tocar e o que falar, agora amar, ou melhor, permitir amar esta difícil...

Passa pelo almoço com pequenos aranhões, falta somente o fim de tarde e algumas horas na faculdade, a tarde voa, mal percebe que já vai embora, sobreviveu a véspera de dia dos namorados, agora vem a parte fácil, ir a aula. Na faculdade fica fácil com certeza metade dos meus amigos estão bebendo, véspera dos dias dos namorados, o dia em que os bares enchem.

Mal chega a entrar, em cada bar que passa, algum "amigo" esta bebendo sozinho.

_É triste beber só. Sorriso irônico.

Bebe com os amigos, ouve seus problemas, tenta fazer eles se sentirem melhor, mas em momento algum conta seus problemas ou deixa transparecê-los. A capa cada vez mais eficaz, desabafar, chorar, confessar, coisas do passado...

Depois de algumas consultas, Clarisse vai embora, já esta um pouco bêbada, sente a capa rachando, sabe que precisa ir o quanto antes. No carro som ligado uma musica, uma musica que já teve significado, participou de uma trilha sonora antiga, que ela não quer mais lembrar. Significado esse que de tão forte é capaz de retirar a tal capa. Ela sabe disso, todas as vezes que se encontram a capa mostra que esta ficando fraca. O caminho é longo, a noite escura faz Clarisse pensar, sonhar, a capa nesse momento perde efeito, deixa se levar pela musica que toca, pelas lembranças, pela saudade, algumas lagrimas um sorriso.

Chega em casa, liga o radio, canta alguns refrões batidos, deita sozinha e encolhida, esperando o dia dos namorados voltar...